O cravo é um instrumento de teclado cujo som é produzido através de uma “unha” chamada plectro, que pinça ou tange as cordas, diferindo assim do piano, instrumento cujas cordas são percutidas por martelos.
Há vários tipos de instrumentos da família do cravo, desde o pequeno,
em formato triangular (a espineta), passando pelo retangular (o virginal), até chegar ao instrumento na forma semelhante a do piano de cauda
(o cravo propriamente dito), que poderá ter um ou dois teclados. Mesmo que a aparência varie, o som será sempre produzido da mesma forma, através do plectro. Diferentes modelos, de diversos tamanhos e formatos foram construídos ao longo dos séculos, por artesãos em vários países. Ainda que a corda seja pinçada da mesma maneira, seu timbre pode mudar bastante, de acordo com o formato e segundo as características construtivas.
Além de sua forma e de como é construído, a decoração de um cravo pode variar bastante, tanto interna quanto externamente. Isso se verifica tanto nos instrumentos antigos quanto nas cópias feitas hoje em dia. O tampo harmônico é em geral pintado com motivos florais, e o interior da tampa pode receber a pintura de uma paisagem bucólica; os pés podem ser simplesmente torneados ou então sucumbir às extravagantes curvas barrocas douradas. Houve em uma determinada época o modismo das chinoiseries, com representações de cenas orientais em ouro sobre a laca vermelha.
O cravo surgiu na Europa no início do século XIV, provavelmente na Itália, e o exemplar mais antigo que restou até nossos dias data de 1521. Os compositores, de um modo geral, começaram a escrever especificamente para o instrumento a partir do século XVI, como é o caso dos virginalistas ingleses - Byrd, Farnaby, Gibbons. No século seguinte, a música para cravo foi a responsável pelo surgimento de um novo estilo - o da música livre, que deu origem ao preludio, à fantasia, à toccata - representado na Itália principalmente por Frescobaldi. Ainda no século XVII, agora na França, surge uma escola cravística cuja linguagem é a do instrumento por excelência, desenvolvida por autores como Louis Couperin, Chambonnières e D’Anglebert, e que influenciou as gerações posteriores. Finalmente, no século XVIII, o instrumento atingiu seu apogeu, estando ligado à produção musical dos maiores nomes daquele tempo, e a alguns dos maiores compositores da música ocidental de todos os tempos, como J.S. Bach, Haendel, Scarlatti, Rameau, François Couperin.
O papel fundamental desempenhado pelo cravo na música européia durante três séculos é evidente, não só através do repertório solo a ele dedicado, mas também por sua utilização como instrumento de acompanhamento harmônico, realizador do baixo contínuo - que é um dos pilares do surgimento do próprio sistema tonal. O cravo era usado para a música de câmara e orquestral, bem como no teatro - Mozart se utiliza do instrumento em recitativos até 1791, em La Clemenza di Tito. Não apenas o órgão, mas o cravo também era utilizado nas igrejas, nas cantatas e oratórios.
Com o surgimento do Romantismo, o cravo vai sendo cada vez menos usado, pois não correspondia mais aos novos ideais estéticos que estavam aparecendo. A necessidade de uma dinâmica de maior amplitude, e também um maior volume para enfrentar salas de concerto de maiores dimensões que as salas dos palácios barrocos, fez com que instrumentos de maior potência sonora ocupassem o lugar dos instrumentos antigos. Ainda assim o cravo não desapareceu totalmente no século XIX, servindo ainda para o aprendizado de teclado (Verdi e Bizet foram alguns dos compositores que iniciaram seus estudos musicais no instrumento) e mesmo para a utilização em concertos restritos, por músicos como Moscheles e Diémer.
Entretanto, no início do século XX, Wanda Landowska, uma pianista polonesa cujo interesse de repertório estava centrado principalmente na música anterior a 1800, é quem chama novamente a atenção para o cravo. Ela propõe sua utilização tanto para a interpretação da música do passado quanto para a música contemporânea. Desde então, tem havido uma verdadeira revolução na maneira de se tocar a chamada música antiga, não só em relação à sua interpretação, mas também quanto à utilização dos instrumentos. Cópias de valiosos instrumentos de época têm sido utilizadas, bem como, em muitos casos, os próprios instrumentos originais, restaurados. Além de sua utilização para a música composta nos séculos XVI, XVII e XVIII, o cravo despertou o interesse de compositores contemporâneos no início do século XX, tais como de Falla, Poulenc, Martin, Henze, Cage, Ligeti, que passaram a compor obras para ele.
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